sexta-feira, 20 de julho de 2012

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A hospedeira



Sobre a Autora:

Nome completo: Stephenie Meyer

Pseudônimo: Não usa

Localidade: Cave Creek, Arizona, EUA

Gênero: Romance, suspense e ficção

Stephenie Sonnibe Meyer nasceu em Hartford, Connecticut na vespera do natal em 24 de dezembro de 1973, filha de Stephen Morgan e Candy. Ela cresceu em Phoenix, Arizona, com cinco irmãos: Seth, Emily, Jacob, Paul, e Heidi. Ela frequentou a escola Chaparral High School, em Scottsdale, Arizona, e cursou literatura inglesa na Universidade Brigham Young, em Provo, Utah, onde se formou em 1995. Meyer é membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Conheceu seu marido Christian, mais conhecido por "Pancho", quando era pequena, casou-se com ele em 1994. Juntos, eles têm três filhos: Gabe, Seth e Eli. Após escrever Crepúsculo (Twilight), Stephenie ganhou 3 prêmios: um do NY Times e dois da Associação das Bibliotecas Americanas.

Crepúsculo (Twilight nos EUA), é o seu primeiro romance. Depois da sua publicação, Stephenie foi escolhida como um dos "novos autores mais promissores de 2005" pela Publishers Weekly. O sucesso desta obra lhe rendeu contratos de adaptação para o cinema, produtos e o planejamento de novas obras com a Little, Brown and Company.

Meyer atualmente vive em Cave Creek, Arizona, e possui também uma casa em Marrowstone Island, Washington. A escritora já veio ao Brasil, em novembro de 2010, juntamente da equipe de filmagem de Amanhecer, longa-metragem de que foi produtora oficial.

Meyer ganhou recentemente duas versões de sua biogafia: uma em quadrinhos, feito originalmente pela Bluewater Comics, "Twilight Unbound: The Stephenie Meyer Story", que conta a vida e a inspiração para a saga, a história e as lendas de Forks; e uma outra, não-autorizada, do biógrafo americano Marc Shapiro.


A Editora:
INTRÍNSECA: JUVENTUDE E COMPETÊNCIA EDITORIAL

Uma editora jovem, não só na idade — afinal foi fundada em dezembro de 2003 — mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.

Com uma apurada seleção de títulos, vários livros alcançam um expressivo número de leitores, figurando em listas de best-sellers por muitos meses, obtendo assim uma incomum unanimidade de elogios por parte do público, da crítica e do mercado. À bem cuidada curadoria editorial alia-se o apuro na produção gráfica, o que transforma as edições em objetos de culto a serviço da boa literatura.

A orientação editorial privilegia temas e estilos que se destacam pela diferença, ousadia e impacto. A Intrínseca tem em seu catálogo, hoje, noventa livros, sendo três deles entre os dez mais vendidos do país. Temos como foco o valor intrínseco do livro – a sua inestimável importância cultural, com o objetivo de guardar, de uma forma diferenciada, um universo particular em cada título publicado.


sexta-feira, 13 de julho de 2012


Beijada por um Anjo
Almas Gêmeas

Neste terceiro livro da série, Beijada Por Um Anjo – Alma Gemeas, para alguns é o momento da verdade e para outros é apenas a conclusão ou desilusão de suas hipoteses. E sim o final aliado a momentos de suspensse e um pouquinho de adrenalina é muito, muito interessante apesar de inevitavel.

Infelizmente não me recordo de ter lido outras obras de Elizabeth Chandler para poder minuciar melhor seu mundo literário, mas até onde pude perceber é uma autora concisa e não deixa arestas na história. O que encontrei um pouquinho de dificuldade nas leituras das obras foi que no meu exemplar a continuação estava desconexa sem a seqüência correta, no caso pulando partes da história, o que infelizmente deixa a narrativa confusa e um pouco fora de foco.

Nesta série que iniciou como uma trilogia e só anos depois veio a se tornar uma série com o lançamento das continuações quatro e cinco e possivelmente um sexto livro a caminho Elizabeth relata um romance cheio de suspense e ficção de forma muito simples e sem meandros, uma leitura muito gostosa e facil. Ela consegue deixar pistas sutis subentendidas mas, que só revelam, realmente a complexidade no desenrolar do tema.

Deixo a dica para quem quiser desfrutar de mais alguns livros de Elizabeth Chandler assim como eu:

SÉRIES:

Beijada por um Anjo: ( que é claro deixou ser uma trilogia e passou a ser uma série)
1. Beijado por um anjo (1995)
2. A Força do Amor (1995)
3. Almas Gêmeas (1995)
4. Destinos Cruzados (2011)
5. Revelações (2012)
6. ….

Dark Secrets:
1. Legacy of Lies (2000)
2. Don’t Tell (2001)
3. No Time to Die (2001)
4. The Deep End of Fear (2003)
5. The Back Door of Midnight (2004)

Livros:
Hot Summer Nights (1996)
At First Sight (1998)
Love Happens (1998)
I Do (1999)
Eloise at Christmas (2003)
Summer in the City (2006)
Love at First Click (2009)

Participações:
First Kisses
The Real Thing (2007)




Ivy está de volta às aulas e, como já era de se esperar, todos estão de olho na garota que estava com Tristan Carruthers na noite em que ele morreu.

Tentando voltar à sua vida normal, acontecimentos estranhos assustam Ivy. Seus pesadelos são cada vez mais claros, e ela tenta se lembrar com detalhes de tudo o que aconteceu na noite do acidente.

O quebra-cabeça vai sendo montado, mas para que ela descubra toda a verdade e consiga se livrar do perigo constante que a rodeia, precisa da ajuda de Tristan. Com o passar do tempo, ela volta a sentir a presença de seu amor e, então, juntos irão lutar para que Ivy sobreviva.

Mas ainda há uma grande dúvida no coração de ambos: se Tristan salvar Ivy, isso significa que sua missão na Terra terá terminado?


Capitulo 1

Com o queixo empinado e os cabelos louros e encaracolados puxados para trás, Ivy bateu a porta da orientadora da escola e foi andando pelo corredor. Vários rapazes da equipe de natação viraram-se para vê-la caminhando até seu armário. Ivy fez o que pôde para retribuir-lhes o olhar com confiança. A calça e a blusa que estava usando no primeiro dia letivo haviam sido escolhidas por Suzanne; sua amiga de longa data e também especialista em moda. Que pena ela não ter escolhido também um saco para enfiar na cabeça que combinasse com seu traje, pensou Ivy. Passou em frente ao quadro de avisos do terceiro ano do ensino médio. As pessoas cochichavam, apontavam para ela com tímidos acenos de cabeça. Situações que já deveria ter imaginado que fossem acontecer.

As pessoas apontariam o dedo para qualquer uma por quem Tristan Carruthers tivesse se apaixonado. Qualquer pessoa que tivesse estado com Tristan na noite em que ele havia morrido seria alvo de cochichos. Assim, era natural que elas apontassem, cochichassem e observassem com muita, muita atenção qualquer pessoa que tivesse tentado o suicídio por não conseguir superar a morte de Tristan. E era isso que todos comentavam a respeito de Ivy: que, por causa do coração partido, havia tomado umas pílulas, tentando, em seguida, se jogar na frente de um trem.

Ela só se lembrava da parte do coração partido, do longo verão depois do acidente de carro, dos pesadelos com o cervo batendo contra o para-brisa. Três semanas atrás, tivera um de seus pesadelos e acordara gritando. Tudo o que conseguia se lembrar sobre aquela noite era de ter sido consolada por seu irmão adotivo, Gregory, e de ter caído no sono logo depois, olhando para a foto de Tristan. Aquela foto, sua foto predileta de Tristan, a foto em que ele usava um velho casaco da escola e um boné de beisebol com a aba virada para trás, agora a assombrava. Já a assombrava mesmo antes de ouvir a versão de seu irmão caçula sobre os acontecimentos daquela noite.


A história de Philip sobre um anjo tê-la salvado não convenceu sua família nem a polícia de que não fora uma tentativa de suicídio. E como ela podia negar ter ingerido uma droga que aparecera no exame de sangue feito pelo hospital? Como poderia argumentar contra o depoimento do maquinista do trem à polícia alegando que não teria conseguido parar a tempo?

- Medo, medo, medo – uma voz vibrante interrompeu os pensamentos de Ivy. – Quem quer brincar do jogo do medo, medo, medo?
Estava gritando, escondido embaixo do espaço coberto da escada. Ivy sabia que era o melhor amigo de Gregory, Eric Ghent, e continuou andando.

- Medo, medo, medo…
Como ela não reagiu, ele saiu debaixo da escada, parecendo um esqueleto emergindo da tumba.

Os parcos cabelos loiros pareciam faixas penteadas para trás, mostrando a enorme testa, e seus olhos, pálidas bolas de gude azuis encaixadas em orifícios cercados por ossos. Ivy não tinha visto Eric nas últimas três semanas; suspeitava que Gregory estivesse mantendo seu amigo zombeteiro longe dela.

Eric começou a se mover rapidamente, o suficiente para bloquear a passagem dela. – Por que você não foi até o fim? Perdeu a coragem? Por que você não se matou?

- Desapontado? – indagou Ivy.
- Medo, medo, medo – foi a resposta provocativa dele.
- Me deixe em paz, Eric – Ivy disse, apertando o passo.




 - Uh-hu, agora não – respondeu, agarrando seu pulso, seus dedos esqueléticos apertavam o braço dela com força. – Você não pode me dar o fora agora, Ivy. Você e eu temos muito em comum.

– Não temos nada em comum – respondeu, soltando-se dele.

– Gregory – disse, enumerando com um dedo. – Drogas – levantou o segundo dedo. – E nós dois somos campeões no jogo do medo – balançando o terceiro dedo. – Somos parceiros agora.

Ivy continuou andando, embora quisesse mesmo sair correndo. Eric vinha atrás dela, continuando a provocar.

- Conte para seu bom amigo, o que a levou a fazer isso? No que você estava pensando quando viu o trem passar correndo pelo trilho bem ali embaixo? Qual foi a sua viagem?

Ivy sentiu repulsa pelas perguntas dele. Parecia impossível pensar que ela, deliberadamente, pularia na frente de um trem. É certo que perdera Tristan, mas ainda havia pessoas em sua vida que eram muito amadas por ela – Philip e sua mãe, Suzanne e Beth, e Gregory, que sempre a protegera e consolara desde a morte de Tristan. Gregory tinha passado por muita coisa também, o suicídio de sua mãe havia acontecido um mês antes da morte de Tristan. Ivy viu a dor e a raiva que aquela morte causaram a ele, e parecia totalmente insano que ela pudesse tentar fazer a mesma coisa.

Contudo, todos diziam que ela havia feito sim. O próprio Gregory dizia.

- Quantas vezes tenho de falar para você, Eric? Não consigo me lembrar do que aconteceu naquela noite, não consigo!

- Mas você vai – disse, abafando o riso. – Mais cedo ou mais tarde, você vai.

Com isso, ele saiu da frente dela e se virou, como um cão quando chega ao final de seu território. Ivy continuou caminhando em direção ao seu armário e ao de suas amigas, ignorando outros olhares curiosos. Tinha esperança de que Suzanne e Beth já tivessem terminado a reunião de orientação aos formandos.



Não era preciso encontrar o número do novo armário de Suzanne Goldstein. Ela não estava lá, mas o armário estava impregnado do aroma de seu perfume favorito, o que levou Ivy – bem como todos os rapazes que desejavam deixar um recado para Suzanne – ao local exato. Suzanne estava saindo com três rapazes diferentes no momento, uma estratégia para deixar Gregory enciumado.

O armário de Beth Van Dyke, que ficava próximo ao de Ivy este ano, já tinha um papel grudado na porta, mas, provavelmente, não era recado de um belo admirador. O mais certo era que ela mesma devia ter fechado a porta deixando de fora uma das muitas anotações sobre suas histórias de romances tórridos, uma das muitas que constavam em seus cadernos.

Ivy seguiu em frente até chegar ao seu próprio armário para deixar alguns livros. Ajoelhando-se, digitou a combinação e abriu a porta. Suspirou. Do lado de dentro da porta, havia uma fotografia de Tristan, a mesma fotografia que a vinha assombrando nas últimas três semanas. Por alguns segundos, mal conseguiu respirar. Como aquilo tinha ido parar ali?

Rapidamente, começou a se lembrar de tudo que fizera naquela manhã: chamada na sala de preparação; depois, reunião geral e loja da escola, e, finalmente, reunião com a orientadora. Leu a lista das atividades duas vezes, mas não conseguia se lembrar de ter colocado a foto na porta. Será que estava mesmo enlouquecendo?

Ivy fechou os olhos e recostou-se na porta do armário. Estou louca, pensou. Estou mesmo louca.

- Estou maluca, Gregory? – era o que tinha perguntado há três semanas, em seu quarto, no primeiro dia após ter retornado do hospital. Estava com a fotografia de Tristan nas mãos e tremia. Gregory tirou a foto das mãos dela gentilmente e a deu para Philip, seu salvador de nove anos de idade.



 - Você vai ficar melhor, Ivy. Tenho certeza – disse Gregory, fazendo-a deitar-se na cama ao lado dele e colocando seu braço ao redor dela.

- O que significa que estou louca agora.

Gregory não respondeu logo em seguida. Já tinha percebido que ele estava diferente quando foi visitá-la no hospital. Seus cabelos negros estavam impecáveis, como sempre, e seu belo rosto parecia uma máscara, exatamente como quando o vira pela primeira vez, escondendo seus pensamentos mais profundos em seus olhos acinzentados.

É algo difícil de entender, Ivy – disse, com cautela. – É difícil saber exatamente no que você estava pensando naquele momento – olhou para Philip, que devolvia a foto ao seu lugar no porta-retratos em cima da escrivaninha. – E com certeza a história de Philip não ajuda muito.

O irmão reagiu expressando seu olhar teimoso.

- Talvez agora que não há ninguém por perto, você possa nos dizer o que realmente aconteceu, Philip.Philip olhou para as duas prateleiras vazias que um dia abrigaram a coleção de anjos de Ivy. As estatuetas eram dele agora. Ivy tinha dado a ele com a condição de que nunca mais falasse em anjos novamente.

- Eu já contei.

- Conte novamente – Gregory disse em um tom baixo e tenso.

- Por favor, Philip. Vai me ajudar – disse Ivy, estendendo a mão para ele.

Ele a deixou segurar sua mão sem muita firmeza. Sabia que estava cansado de ser interrogado, primeiro pela polícia, depois pelos médicos no hospital e, por último, por sua mãe e pelo pai de Gregory, Andrew.

- Eu estava dormindo. Depois do seu pesadelo, Gregory disse que ficaria com você. Peguei no sono novamente. Mas, depois, ouvi alguém me chamando, não sabia quem era no começo. Ele me mandou acordar. Disse que você precisava de ajuda.

Philip parou de narrar como se a história tivesse chegado ao fim.



 - E?

Olhou para as prateleiras vazias, depois soltou a mão dela.

- Continue – pediu Ivy.

- Você vai gritar comigo.

- Não vou. E nem o Gregory vai – disse, lançando a Gregory um olhar de advertência. – Apenas nos conte o que você lembra.

- Você ouviu uma voz em sua cabeça – disse Gregory. – E ela dizia que Ivy precisava de ajuda. A voz parecia a de Tristan.

- Era o Tristan – insistiu Philip. – Era o anjo Tristan!

- Está bem, está bem – disse Gregory.

- A voz lhe disse qual era o problema comigo? A voz disse a você onde eu estava?

Ele balançou a cabeça. – Tristan me disse para colocar meus sapatos, descer a escada, e ir para a porta dos fundos. Depois, corremos pelo gramado até o muro de pedras. Sabia que não podia ultrapassá-lo, mas Tristan disse que não havia problemas porque ele estava comigo.
Ivy conseguia sentir a tensão no corpo de Gregory ao lado do seu, mas concordava com a cabeça, encorajando Philip a continuar.

- Foi assustador, Ivy, descer a montanha. Era difícil de escorar. As pedras eram escorregadias demais.

- É impossível – disse Gregory, expressando frustração e perplexidade. – Uma criança jamais conseguiria fazer aquilo. Eu não conseguiria fazer aquilo.

- Tristan estava comigo – salientou Philip.

- Não sei como você chegou à estação, Philip – disse Gregory com a raiva à flor da pele. – Mas estou cansado dessa história de Tristan. Não quero ouvi-la novamente.

- Eu quero – Ivy disse em voz baixa, percebendo que Gregory prendia o fôlego. – Continue – disse.

- Quando chegamos ao pé da montanha, ainda tínhamos de passar por uma outra cerca. Perguntei o que estava acontecendo, mas Tristan



não me falou. Só disse que tínhamos de ajudar você. Então, comecei a escalar a cerca, daí eu quase estraguei tudo. Pensei que, como Tristan era um anjo, conseguiria voar – Gregory levantou-se e começou a andar pelo quarto. – Mas nós dois juntos não podíamos, então acabamos caindo do topo da cerca.

Ivy olhou para o tornozelo enfaixado do irmão. Seus joelhos estavam roxos e feridos.

- Então ouvimos o apito do trem. E tínhamos de continuar correndo. Quando chegamos mais perto, vimos você na plataforma. Gritamos para você, Ivy, mas você não nos ouvia. Subimos a escada correndo e atravessamos a ponte. Foi, então, que vimos o outro Tristan, o que estava de boné e casaco, igual ao da fotografia – disse, apontando para ela.

Ivy estremeceu.

- Então – disse Gregory – o anjo Tristan estava em dois lugares – com você e também do outro lado dos trilhos. Ele estava fazendo uma brincadeira com ela, pedindo que fosse até ele. Não era uma brincadeira muito legal.

- Tristan estava comigo – enfatizou Philip.

- Então, quem estava do outro lado? – perguntou Gregory.

- Um anjo mau – Philip respondeu com convicção. – Alguém que queria ver Ivy morta.

Gregory pestanejou.

Ivy deixou o corpo, apoiado na cabeceira, afundar-se na cama. Por mais bizarra que a história de Philip parecesse, era algo mais real para ela do que a ideia de ter ingerido drogas para se atirar na frente do trem. E não se podia negar o fato de que, de alguma forma, seu irmão fora até lá para salvá-la no último minuto. O maquinista tinha visto uma forma indistinta na frente do trem e havia passado um rádio para a central avisando que não conseguiria parar a tempo.




 - Pensei que você tivesse visto Tristan – disse Philip.

- Como assim? – Ivy perguntou.

- É que você se virou. Achei que tivesse visto a luz – Philip disse, lançando-lhe um olhar esperançoso.

Ivy balançou a cabeça. – Não me lembro. Não me lembro de nada referente à estação de trem.
Talvez fosse mais fácil se nunca viesse a se lembrar do que acontecera, Ivy pensou. Mas, toda vez que olhava para a foto, sentia sua mente arrepiar. Algo não permitia que desviasse o olhar e esquecesse. Ivy encarava a foto até esta ficar turva. Nem percebeu que havia começado a chorar.

- Ivy… Ivy, não.

As palavras de Suzanne trouxeram-na de volta ao tempo presente. Assim que ergueu a cabeça, sua amiga ajoelhou-se ao lado do armário. A boca delineada pelo batom chamativo. Beth, que também havia retornado da orientação, estava de pé bem atrás, procurando lenços de papel na mochila. Olhou para Ivy e o brilho de seus olhos refletia as lágrimas da amiga.

- Estou bem – disse, enxugando os olhos rapidamente, olhando de uma para a outra. – Sério, estou bem.

Mas dava para perceber que não acreditavam nela. Gregory a trouxera para a escola naquele dia e Suzanne a levaria para casa. Era como se não confiassem nela dirigindo, como se pensassem a todo minuto que ela perderia o controle e se atiraria de um penhasco.

- Você não devia pendurar essa foto no seu armário – comentou Suzanne. – Mais cedo ou mais tarde, você vai ter de deixar isso para trás, Ivy. Você só está fazendo com que fique… – hesitou.

- Louca?

Suzanne passou a mão na sua vasta cabeleira negra, depois ficou mexendo no seu brinco de argola dourada. Nunca tinha ficado



constrangida ao expressar seus sentimentos antes, mas estava sendo cautelosa agora. – Não é saudável, Ivy – disse, finalmente. – Não é bom deixar essa fotografia aqui, fazendo com que você se lembre toda vez que abrir a porta.

- Mas não fui eu quem a colocou aqui – disse Ivy.

Suzanne franziu a testa. – O que você está dizendo?

- Você me viu fazendo isso? – Ivy perguntou.

- Bem, não, mas você tem de se lembrar… – a amiga começou a dizer.

- Não me lembro.

Suzanne e Beth entreolharam-se.

- Então, alguém deve ter colocado – disse Ivy, tentando aparentar bem mais certeza do que realmente tinha. – É uma fotografia da escola. Qualquer um pode ter uma cópia. Eu não a coloquei aqui, então outra pessoa deve ter feito isso.

Houve um momento de silêncio. Suzanne suspirou.

- Você conversou com a orientadora hoje? – perguntou Beth.

- Acabei de vir de lá – disse Ivy, fechando o armário, deixando a fotografia lá dentro.
Levantou-se ao lado de Beth, cuja vestimenta também havia sido escolhida por Suzanne. Mas Beth poderia estar vestida “na última moda” que, para Ivy, sempre se pareceria com uma coruja de olhos bem abertos, com seu rosto arredondado e seus cabelos frisados feito plumas.

- O que a Srta. Bryce disse? – perguntou Beth enquanto caminhavam pelo corredor.

- Não muito. Devo conversar com ela duas vezes por semana e aparecer por lá sempre que tiver um dia ruim. Então, vocês duas irão segunda-feira? – perguntou, mudando o assunto.

Os olhos de Suzanne brilharam. – À festa da família Baines? É a tradição do Dia do Trabalho! – sentia-se aliviada por falar sobre a festa.



Ivy sabia que o último mês fora difícil para Suzanne. Ela havia ficado tão enciumada com a atenção que Gregory dava a Ivy que chegou a deixar de falar com a melhor amiga. Depois, quando Gregory contou a Suzanne que Ivy havia tentado cometer suicídio, sentiu-se culpada por ter rompido com a amiga. Mas Ivy sabia que ela também tinha sua parcela de culpa no rompimento. Tinha se aproximado demais de Gregory. Nas três semanas que se seguiram ao incidente na estação de trem, Gregory afastara-se de Ivy, tratando-a mais como uma irmã do que como a garota por quem tinha um interesse amoroso. Suzanne voltou a se aproximar de Ivy, e Ivy estava feliz com isso.

- Vamos à festa da família Baines desde criança – Beth contou a Ivy. – Todo mundo em Stonehill vai.

- Menos eu – disse Ivy.

- E Will. Ele se mudou para cá no inverno passado, como você – disse Beth. – Falei com ele sobre a festa e ele vai.

- Vai? – Ivy tinha percebido que Beth e Will estavam cada vez mais próximos. – Ele é um bom rapaz.

- É mesmo – disse Beth, cheia de entusiasmo.

As duas ficaram se examinando por alguns minutos. Será que Beth e Will estavam se tornando mais que amigos? Ivy perguntava-se. Depois de escrever todas aquelas histórias românticas, talvez Beth tivesse se apaixonado finalmente. Não seria algo difícil de acontecer: muitas garotas gostavam de Will. Ivy mesmo sentia que sempre que olhava em seus olhos castanhos escuros… ao perceber o que estava pensando, rapidamente desviou o pensamento. Jamais se permitiria apaixonar-se novamente.

As garotas saíram da escola e Suzanne levou-as por um caminho cheio de rodeios até o carro, o qual, convenientemente, passava pelo campo de futebol em que o time estava treinando.

- Tenho de conseguir informações sobre o time – disse Suzanne depois de vários minutos de observação. – E se eu ficar caidinha



pelo número 49 e acabar descobrindo que ele é só um aluno de segundo ano?

- Um gato é sempre um gato – Beth respondeu filosoficamente. – E mulheres mais velhas com rapazes mais novos está super na moda.

- Não diga a Gregory que olhei – disse Suzanne em um sussurro encenado enquanto iam para o carro.

- Olhar é proibido? – perguntou Beth de forma inocente.

- Pensando bem, conte para ele, conte! – disse Suzanne, agitando os braços dramaticamente. – Deixe que ele saiba, Ivy, que estou disponí-vel e olhando para os rapazes.

Ivy só sorriu. Desde o começo, Suzanne e Gregory faziam joguinhos psicológicos um com o outro.
- Quer dizer, por que tenho de ficar presa a um cara só? – continuou Suzanne.

Ivy sabia que era tudo teatro. Suzanne estava obcecada por Gregory desde março e queria desesperadamente que ele se prendesse a ela.

- Vou começar na festa da família Baines – disse, abrindo o carro. – É lá que vários namoros da escola começaram, sabia?

- Você está planejando quantos? – provocou Ivy.

- Seis.

- Ótimo – disse Beth. – Mais seis corações partidos para eu escrever a respeito.

- Eu concordaria com cinco – acrescentou Suzanne, lançando a Ivy um olhar travesso. – Se você começasse um e parasse de pensar em Tristan.

Ivy não respondeu.

Suzanne entrou no carro, fechou a porta, e estendeu a mão para destravar a porta do passageiro. Mas, antes que Ivy pudesse abri-la, Beth pegou em sua mão. Falou rapidamente, mas em voz baixa:

- Você não pode esquecer, Ivy. Ainda não. Seria perigoso esquecer.

Novamente Ivy sentiu aquela sensação de arrepio em sua nuca.



Então, Beth abriu a porta do seu próprio carro, entrou nele e saiu em velocidade.

Suzanne olhou pelo espelho retrovisor, franzindo a testa. – Não sei o que deu naquela garota. Ultimamente parece um coelho assustado, saltitando para lá e para cá. O que ela acabou de dizer a você?

Ivy deu de ombros. – Só um conselho.

  • Não me diga – teve outra das suas premonições.
Ivy ficou em silêncio.

Suzanne riu. – Você tem de admitir, Ivy, a Beth é esquisita. Nunca levo os “conselhos” dela a sério. Você também não deveria.

  • Não levei até agora – disse Ivy. E nas duas ocasiões, pensou, me arrependo de não ter levado.


Capitulo 2
***