Beijada
por um Anjo
Almas
Gêmeas
Neste terceiro livro da série, Beijada Por Um Anjo – Alma Gemeas,
para alguns é o momento da verdade e para outros é apenas a
conclusão ou desilusão de suas hipoteses. E sim o final aliado a
momentos de suspensse e um pouquinho de adrenalina é muito, muito
interessante apesar de inevitavel.
Infelizmente não me recordo de ter lido outras obras de Elizabeth
Chandler para poder minuciar melhor seu mundo literário, mas até onde
pude perceber é uma autora concisa e não deixa arestas na história. O que encontrei um pouquinho de dificuldade nas leituras das obras foi que no meu exemplar a continuação estava desconexa sem a seqüência correta, no caso pulando partes da história, o que infelizmente deixa a narrativa confusa e um pouco fora de foco.
Nesta série que iniciou como uma trilogia e só anos depois veio a se tornar uma série com o lançamento das continuações quatro e cinco e possivelmente um sexto livro a caminho Elizabeth relata um romance cheio de suspense e ficção de
forma muito simples e sem meandros, uma leitura muito gostosa e facil.
Ela consegue deixar pistas sutis subentendidas mas, que só revelam, realmente a complexidade no desenrolar do tema.
Deixo a dica para quem quiser desfrutar de mais alguns livros de Elizabeth
Chandler assim como eu:
SÉRIES:
Beijada
por um Anjo:
( que é claro deixou ser uma trilogia e passou a ser uma série)
1.
Beijado por um anjo (1995)
2.
A Força do Amor (1995)
3.
Almas Gêmeas (1995)
4.
Destinos Cruzados (2011)
5. Revelações
(2012)
6.
….
Dark
Secrets:
1.
Legacy of Lies (2000)
2.
Don’t Tell (2001)
3.
No Time to Die (2001)
4.
The Deep End of Fear (2003)
5.
The Back Door of Midnight (2004)
Livros:
Hot
Summer Nights (1996)
At
First Sight (1998)
Love
Happens (1998)
I
Do (1999)
Eloise
at Christmas (2003)
Summer
in the City (2006)
Love
at First Click (2009)
Participações:
First
Kisses
The
Real Thing (2007)
Ivy
está de volta às aulas e, como já era de se esperar, todos estão
de olho na garota que estava com Tristan Carruthers na noite em que
ele morreu.
Tentando
voltar à sua vida normal, acontecimentos estranhos assustam Ivy.
Seus pesadelos são cada vez mais claros, e ela tenta se lembrar com
detalhes de tudo o que aconteceu na noite do acidente.
O
quebra-cabeça vai sendo montado, mas para que ela descubra toda a
verdade e consiga se livrar do perigo constante que a rodeia, precisa
da ajuda de Tristan. Com o passar do tempo, ela volta a sentir a
presença de seu amor e, então, juntos irão lutar para que Ivy
sobreviva.
Mas
ainda há uma grande dúvida no coração de ambos: se Tristan salvar
Ivy, isso significa que sua missão na Terra terá terminado?
Capitulo
1
Com o
queixo empinado e os cabelos louros e encaracolados puxados para
trás, Ivy bateu a porta da orientadora da escola e foi andando pelo
corredor. Vários rapazes da equipe de natação viraram-se para
vê-la caminhando até seu armário. Ivy fez o que pôde para
retribuir-lhes o olhar com confiança. A calça e a blusa que estava
usando no primeiro dia letivo haviam sido escolhidas por Suzanne; sua
amiga de longa data e também especialista em moda. Que pena ela não
ter escolhido também um saco para enfiar na cabeça que combinasse
com seu traje, pensou Ivy. Passou em frente ao quadro de avisos do
terceiro ano do ensino médio. As pessoas cochichavam, apontavam para
ela com tímidos acenos de cabeça. Situações que já deveria ter
imaginado que fossem acontecer.
As
pessoas apontariam o dedo para qualquer uma por quem Tristan
Carruthers tivesse se apaixonado. Qualquer pessoa que tivesse estado
com Tristan na noite em que ele havia morrido seria alvo de
cochichos. Assim, era natural que elas apontassem, cochichassem e
observassem com muita, muita atenção qualquer pessoa que tivesse
tentado o suicídio por não conseguir superar a morte de Tristan. E
era isso que todos comentavam a respeito de Ivy: que, por causa do
coração partido, havia tomado umas pílulas, tentando, em seguida,
se jogar na frente de um trem.
Ela só
se lembrava da parte do coração partido, do longo verão depois do
acidente de carro, dos pesadelos com o cervo batendo contra o
para-brisa. Três semanas atrás, tivera um de seus pesadelos e
acordara gritando. Tudo o que conseguia se lembrar sobre aquela noite
era de ter sido consolada por seu irmão adotivo, Gregory, e de ter
caído no sono logo depois, olhando para a foto de Tristan. Aquela
foto, sua foto predileta de Tristan, a foto em que ele usava um velho
casaco da escola e um boné de beisebol com a aba virada para trás,
agora a assombrava. Já a assombrava mesmo antes de ouvir a versão
de seu irmão caçula sobre os acontecimentos daquela noite.
A
história de Philip sobre um anjo tê-la salvado não convenceu sua
família nem a polícia de que não fora uma tentativa de suicídio.
E como ela podia negar ter ingerido uma droga que aparecera no exame
de sangue feito pelo hospital? Como poderia argumentar contra o
depoimento do maquinista do trem à polícia alegando que não teria
conseguido parar a tempo?
- Medo, medo, medo – uma voz vibrante interrompeu os pensamentos de
Ivy. – Quem quer brincar do jogo do medo, medo, medo?
Estava
gritando, escondido embaixo do espaço coberto da escada. Ivy sabia
que era o melhor amigo de Gregory, Eric Ghent, e continuou andando.
- Medo, medo, medo…
Como ela
não reagiu, ele saiu debaixo da escada, parecendo um esqueleto
emergindo da tumba.
Os parcos
cabelos loiros pareciam faixas penteadas para trás, mostrando a
enorme testa, e seus olhos, pálidas bolas de gude azuis encaixadas
em orifícios cercados por ossos. Ivy não tinha visto Eric nas
últimas três semanas; suspeitava que Gregory estivesse mantendo seu
amigo zombeteiro longe dela.
Eric
começou a se mover rapidamente, o suficiente para bloquear a
passagem dela. – Por que você não foi até o fim? Perdeu a
coragem? Por que você não se matou?
- Desapontado? – indagou Ivy.
- Medo, medo, medo – foi a resposta provocativa dele.
- Me deixe em paz, Eric – Ivy disse, apertando o passo.
- Uh-hu, agora não – respondeu, agarrando seu pulso, seus dedos
esqueléticos apertavam o braço dela com força. – Você não pode
me dar o fora agora, Ivy. Você e eu temos muito em comum.
– Não temos nada em comum – respondeu, soltando-se dele.
– Gregory – disse, enumerando com um dedo. – Drogas –
levantou o segundo dedo. – E nós dois somos campeões no jogo do
medo – balançando o terceiro dedo. – Somos parceiros agora.
Ivy
continuou andando, embora quisesse mesmo sair correndo. Eric vinha
atrás dela, continuando a provocar.
- Conte para seu bom amigo, o que a levou a fazer isso? No que você
estava pensando quando viu o trem passar correndo pelo trilho bem ali
embaixo? Qual foi a sua viagem?
Ivy
sentiu repulsa pelas perguntas dele. Parecia impossível pensar que
ela, deliberadamente, pularia na frente de um trem. É certo que
perdera Tristan, mas ainda havia pessoas em sua vida que eram muito
amadas por ela – Philip e sua mãe, Suzanne e Beth, e Gregory, que
sempre a protegera e consolara desde a morte de Tristan. Gregory
tinha passado por muita coisa também, o suicídio de sua mãe havia
acontecido um mês antes da morte de Tristan. Ivy viu a dor e a raiva
que aquela morte causaram a ele, e parecia totalmente insano que ela
pudesse tentar fazer a mesma coisa.
Contudo,
todos diziam que ela havia feito sim. O próprio Gregory dizia.
- Quantas vezes tenho de falar para você, Eric? Não consigo me
lembrar do que aconteceu naquela noite, não consigo!
- Mas você vai – disse, abafando o riso. – Mais cedo ou mais
tarde, você vai.
Com isso,
ele saiu da frente dela e se virou, como um cão quando chega ao
final de seu território. Ivy continuou caminhando em direção ao
seu armário e ao de suas amigas, ignorando outros olhares curiosos.
Tinha esperança de que Suzanne e Beth já tivessem terminado a
reunião de orientação aos formandos.
Não era
preciso encontrar o número do novo armário de Suzanne Goldstein.
Ela não estava lá, mas o armário estava impregnado do aroma de seu
perfume favorito, o que levou Ivy – bem como todos os rapazes que
desejavam deixar um recado para Suzanne – ao local exato. Suzanne
estava saindo com três rapazes diferentes no momento, uma estratégia
para deixar Gregory enciumado.
O armário
de Beth Van Dyke, que ficava próximo ao de Ivy este ano, já tinha
um papel grudado na porta, mas, provavelmente, não era recado de um
belo admirador. O mais certo era que ela mesma devia ter fechado a
porta deixando de fora uma das muitas anotações sobre suas
histórias de romances tórridos, uma das muitas que constavam em
seus cadernos.
Ivy
seguiu em frente até chegar ao seu próprio armário para deixar
alguns livros. Ajoelhando-se, digitou a combinação e abriu a porta.
Suspirou. Do lado de dentro da porta, havia uma fotografia de
Tristan, a mesma fotografia que a vinha assombrando nas últimas três
semanas. Por alguns segundos, mal conseguiu respirar. Como aquilo
tinha ido parar ali?
Rapidamente,
começou a se lembrar de tudo que fizera naquela manhã: chamada na
sala de preparação; depois, reunião geral e loja da escola, e,
finalmente, reunião com a orientadora. Leu a lista das atividades
duas vezes, mas não conseguia se lembrar de ter colocado a foto na
porta. Será que estava mesmo enlouquecendo?
Ivy
fechou os olhos e recostou-se na porta do armário. Estou louca,
pensou. Estou mesmo louca.
- Estou maluca, Gregory? – era o que tinha perguntado há três
semanas, em seu quarto, no primeiro dia após ter retornado do
hospital. Estava com a fotografia de Tristan nas mãos e tremia.
Gregory tirou a foto das mãos dela gentilmente e a deu para Philip,
seu salvador de nove anos de idade.
- Você vai ficar melhor, Ivy. Tenho certeza – disse Gregory,
fazendo-a deitar-se na cama ao lado dele e colocando seu braço ao
redor dela.
- O que significa que estou louca agora.
Gregory
não respondeu logo em seguida. Já tinha percebido que ele estava
diferente quando foi visitá-la no hospital. Seus cabelos negros
estavam impecáveis, como sempre, e seu belo rosto parecia uma
máscara, exatamente como quando o vira pela primeira vez, escondendo
seus pensamentos mais profundos em seus olhos acinzentados.
É algo
difícil de entender, Ivy – disse, com cautela. – É difícil
saber exatamente no que você estava pensando naquele momento –
olhou para Philip, que devolvia a foto ao seu lugar no porta-retratos
em cima da escrivaninha. – E com certeza a história de Philip não
ajuda muito.
O irmão
reagiu expressando seu olhar teimoso.
- Talvez agora que não há ninguém por perto, você possa nos dizer
o que realmente aconteceu, Philip.Philip olhou para as duas
prateleiras vazias que um dia abrigaram a coleção de anjos de Ivy.
As estatuetas eram dele agora. Ivy tinha dado a ele com a condição
de que nunca mais falasse em anjos novamente.
- Eu já contei.
- Conte novamente – Gregory disse em um tom baixo e tenso.
- Por favor, Philip. Vai me ajudar – disse Ivy, estendendo a mão
para ele.
Ele a
deixou segurar sua mão sem muita firmeza. Sabia que estava cansado
de ser interrogado, primeiro pela polícia, depois pelos médicos no
hospital e, por último, por sua mãe e pelo pai de Gregory, Andrew.
- Eu estava dormindo. Depois do seu pesadelo, Gregory disse que
ficaria com você. Peguei no sono novamente. Mas, depois, ouvi alguém
me chamando, não sabia quem era no começo. Ele me mandou acordar.
Disse que você precisava de ajuda.
Philip
parou de narrar como se a história tivesse chegado ao fim.
- E?
Olhou
para as prateleiras vazias, depois soltou a mão dela.
- Continue – pediu Ivy.
- Você vai gritar comigo.
- Não vou. E nem o Gregory vai – disse, lançando a Gregory um
olhar de advertência. – Apenas nos conte o que você lembra.
- Você ouviu uma voz em sua cabeça – disse Gregory. – E ela
dizia que Ivy precisava de ajuda. A voz parecia a de Tristan.
- Era o Tristan – insistiu Philip. – Era o anjo Tristan!
- Está bem, está bem – disse Gregory.
- A voz lhe disse qual era o problema comigo? A voz disse a você
onde eu estava?
Ele
balançou a cabeça. – Tristan me disse para colocar meus sapatos,
descer a escada, e ir para a porta dos fundos. Depois, corremos pelo
gramado até o muro de pedras. Sabia que não podia ultrapassá-lo,
mas Tristan disse que não havia problemas porque ele estava comigo.
Ivy
conseguia sentir a tensão no corpo de Gregory ao lado do seu, mas
concordava com a cabeça, encorajando Philip a continuar.
- Foi assustador, Ivy, descer a montanha. Era difícil de escorar. As
pedras eram escorregadias demais.
- É impossível – disse Gregory, expressando frustração e
perplexidade. – Uma criança jamais conseguiria fazer aquilo. Eu
não conseguiria fazer aquilo.
- Tristan estava comigo – salientou Philip.
- Não sei como você chegou à estação, Philip – disse Gregory
com a raiva à flor da pele. – Mas estou cansado dessa história de
Tristan. Não quero ouvi-la novamente.
- Eu quero – Ivy disse em voz baixa, percebendo que Gregory prendia
o fôlego. – Continue – disse.
- Quando chegamos ao pé da montanha, ainda tínhamos de passar por
uma outra cerca. Perguntei o que estava acontecendo, mas Tristan
não me
falou. Só disse que tínhamos de ajudar você. Então, comecei a
escalar a cerca, daí eu quase estraguei tudo. Pensei que, como
Tristan era um anjo, conseguiria voar – Gregory levantou-se e
começou a andar pelo quarto. – Mas nós dois juntos não podíamos,
então acabamos caindo do topo da cerca.
Ivy olhou
para o tornozelo enfaixado do irmão. Seus joelhos estavam roxos e
feridos.
- Então ouvimos o apito do trem. E tínhamos de continuar correndo.
Quando chegamos mais perto, vimos você na plataforma. Gritamos para
você, Ivy, mas você não nos ouvia. Subimos a escada correndo e
atravessamos a ponte. Foi, então, que vimos o outro Tristan, o que
estava de boné e casaco, igual ao da fotografia – disse, apontando
para ela.
Ivy
estremeceu.
- Então – disse Gregory – o anjo Tristan estava em dois lugares
– com você e também do outro lado dos trilhos. Ele estava fazendo
uma brincadeira com ela, pedindo que fosse até ele. Não era uma
brincadeira muito legal.
- Tristan estava comigo – enfatizou Philip.
- Então, quem estava do outro lado? – perguntou Gregory.
- Um anjo mau – Philip respondeu com convicção. – Alguém que
queria ver Ivy morta.
Gregory
pestanejou.
Ivy
deixou o corpo, apoiado na cabeceira, afundar-se na cama. Por mais
bizarra que a história de Philip parecesse, era algo mais real para
ela do que a ideia de ter ingerido drogas para se atirar na frente do
trem. E não se podia negar o fato de que, de alguma forma, seu irmão
fora até lá para salvá-la no último minuto. O maquinista tinha
visto uma forma indistinta na frente do trem e havia passado um rádio
para a central avisando que não conseguiria parar a tempo.
- Pensei que você tivesse visto Tristan – disse Philip.
- Como assim? – Ivy perguntou.
- É que você se virou. Achei que tivesse visto a luz – Philip
disse, lançando-lhe um olhar esperançoso.
Ivy
balançou a cabeça. – Não me lembro. Não me lembro de nada
referente à estação de trem.
Talvez
fosse mais fácil se nunca viesse a se lembrar do que acontecera, Ivy
pensou. Mas, toda vez que olhava para a foto, sentia sua mente
arrepiar. Algo não permitia que desviasse o olhar e esquecesse. Ivy
encarava a foto até esta ficar turva. Nem percebeu que havia
começado a chorar.
- Ivy… Ivy, não.
As
palavras de Suzanne trouxeram-na de volta ao tempo presente. Assim
que ergueu a cabeça, sua amiga ajoelhou-se ao lado do armário. A
boca delineada pelo batom chamativo. Beth, que também havia
retornado da orientação, estava de pé bem atrás, procurando
lenços de papel na mochila. Olhou para Ivy e o brilho de seus olhos
refletia as lágrimas da amiga.
- Estou bem – disse, enxugando os olhos rapidamente, olhando de uma
para a outra. – Sério, estou bem.
Mas dava
para perceber que não acreditavam nela. Gregory a trouxera para a
escola naquele dia e Suzanne a levaria para casa. Era como se não
confiassem nela dirigindo, como se pensassem a todo minuto que ela
perderia o controle e se atiraria de um penhasco.
- Você não devia pendurar essa foto no seu armário – comentou
Suzanne. – Mais cedo ou mais tarde, você vai ter de deixar isso
para trás, Ivy. Você só está fazendo com que fique… –
hesitou.
- Louca?
Suzanne
passou a mão na sua vasta cabeleira negra, depois ficou mexendo no
seu brinco de argola dourada. Nunca tinha ficado
constrangida
ao expressar seus sentimentos antes, mas estava sendo cautelosa
agora. – Não é saudável, Ivy – disse, finalmente. – Não é
bom deixar essa fotografia aqui, fazendo com que você se lembre toda
vez que abrir a porta.
- Mas não fui eu quem a colocou aqui – disse Ivy.
Suzanne
franziu a testa. – O que você está dizendo?
- Você me viu fazendo isso? – Ivy perguntou.
- Bem, não, mas você tem de se lembrar… – a amiga começou a
dizer.
- Não me lembro.
Suzanne e
Beth entreolharam-se.
- Então, alguém deve ter colocado – disse Ivy, tentando aparentar
bem mais certeza do que realmente tinha. – É uma fotografia da
escola. Qualquer um pode ter uma cópia. Eu não a coloquei aqui,
então outra pessoa deve ter feito isso.
Houve um
momento de silêncio. Suzanne suspirou.
- Você conversou com a orientadora hoje? – perguntou Beth.
- Acabei de vir de lá – disse Ivy, fechando o armário, deixando a
fotografia lá dentro.
Levantou-se ao lado de Beth, cuja vestimenta também havia sido
escolhida por Suzanne. Mas Beth poderia estar vestida “na última
moda” que, para Ivy, sempre se pareceria com uma coruja de olhos
bem abertos, com seu rosto arredondado e seus cabelos frisados feito
plumas.
- O que a Srta. Bryce disse? – perguntou Beth enquanto caminhavam
pelo corredor.
- Não muito. Devo conversar com ela duas vezes por semana e aparecer
por lá sempre que tiver um dia ruim. Então, vocês duas irão
segunda-feira? – perguntou, mudando o assunto.
Os olhos
de Suzanne brilharam. – À festa da família Baines? É a tradição
do Dia do Trabalho! – sentia-se aliviada por falar sobre a festa.
Ivy sabia
que o último mês fora difícil para Suzanne. Ela havia ficado tão
enciumada com a atenção que Gregory dava a Ivy que chegou a deixar
de falar com a melhor amiga. Depois, quando Gregory contou a Suzanne
que Ivy havia tentado cometer suicídio, sentiu-se culpada por ter
rompido com a amiga. Mas Ivy sabia que ela também tinha sua parcela
de culpa no rompimento. Tinha se aproximado demais de Gregory. Nas
três semanas que se seguiram ao incidente na estação de trem,
Gregory afastara-se de Ivy, tratando-a mais como uma irmã do que
como a garota por quem tinha um interesse amoroso. Suzanne voltou a
se aproximar de Ivy, e Ivy estava feliz com isso.
- Vamos à festa da família Baines desde criança – Beth contou a
Ivy. – Todo mundo em Stonehill vai.
- Menos eu – disse Ivy.
- E Will. Ele se mudou para cá no inverno passado, como você –
disse Beth. – Falei com ele sobre a festa e ele vai.
- Vai? – Ivy tinha percebido que Beth e Will estavam cada vez mais
próximos. – Ele é um bom rapaz.
- É mesmo – disse Beth, cheia de entusiasmo.
As duas
ficaram se examinando por alguns minutos. Será que Beth e Will
estavam se tornando mais que amigos? Ivy perguntava-se. Depois de
escrever todas aquelas histórias românticas, talvez Beth tivesse se
apaixonado finalmente. Não seria algo difícil de acontecer: muitas
garotas gostavam de Will. Ivy mesmo sentia que sempre que olhava em
seus olhos castanhos escuros… ao perceber o que estava pensando,
rapidamente desviou o pensamento. Jamais se permitiria apaixonar-se
novamente.
As
garotas saíram da escola e Suzanne levou-as por um caminho cheio de
rodeios até o carro, o qual, convenientemente, passava pelo campo de
futebol em que o time estava treinando.
- Tenho de conseguir informações sobre o time – disse Suzanne
depois de vários minutos de observação. – E se eu ficar caidinha
pelo
número 49 e acabar descobrindo que ele é só um aluno de segundo
ano?
- Um gato é sempre um gato – Beth respondeu filosoficamente. – E
mulheres mais velhas com rapazes mais novos está super na moda.
- Não diga a Gregory que olhei – disse Suzanne em um sussurro
encenado enquanto iam para o carro.
- Olhar é proibido? – perguntou Beth de forma inocente.
- Pensando bem, conte para ele, conte! – disse Suzanne, agitando os
braços dramaticamente. – Deixe que ele saiba, Ivy, que estou
disponí-vel e olhando para os rapazes.
Ivy só
sorriu. Desde o começo, Suzanne e Gregory faziam joguinhos
psicológicos um com o outro.
- Quer dizer, por que tenho de ficar presa a um cara só? –
continuou Suzanne.
Ivy sabia
que era tudo teatro. Suzanne estava obcecada por Gregory desde março
e queria desesperadamente que ele se prendesse a ela.
- Vou começar na festa da família Baines – disse, abrindo o
carro. – É lá que vários namoros da escola começaram, sabia?
- Você está planejando quantos? – provocou Ivy.
- Seis.
- Ótimo – disse Beth. – Mais seis corações partidos para eu
escrever a respeito.
- Eu concordaria com cinco – acrescentou Suzanne, lançando a Ivy
um olhar travesso. – Se você começasse um e parasse de pensar em
Tristan.
Ivy não
respondeu.
Suzanne
entrou no carro, fechou a porta, e estendeu a mão para destravar a
porta do passageiro. Mas, antes que Ivy pudesse abri-la, Beth pegou
em sua mão. Falou rapidamente, mas em voz baixa:
- Você não pode esquecer, Ivy. Ainda não. Seria perigoso esquecer.
Novamente
Ivy sentiu aquela sensação de arrepio em sua nuca.
Então,
Beth abriu a porta do seu próprio carro, entrou nele e saiu em
velocidade.
Suzanne
olhou pelo espelho retrovisor, franzindo a testa. – Não sei o que
deu naquela garota. Ultimamente parece um coelho assustado,
saltitando para lá e para cá. O que ela acabou de dizer a você?
Ivy
deu de ombros. – Só um conselho.
- Não me diga – teve outra das suas premonições.
Ivy
ficou em silêncio.
Suzanne
riu. – Você tem de admitir, Ivy, a Beth é esquisita. Nunca levo
os “conselhos” dela a sério. Você também não deveria.
- Não levei até agora – disse Ivy. E nas duas ocasiões, pensou, me arrependo de não ter levado.
Capitulo
2
***
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